Pelo menos em um ponto, as religiões, os sábios da antiguidade e os psicólogos atuais concordam: o homem está em um tipo singular de sono psíquico. O homem existe como que dormindo. Toda sua vida se constitue em um pesadelo, que ele supoe ser a realidade. Uma das suas pílulas suporíferas mais usadas é a suposição de que ele não se encontra adormecido, de que é um ser humano perfeitamente consciente. A despeito dos desastres repetidos, ele persiste em dizer que está desperto. Atravessa a vida como sonâmbulo, dando trombadas aqui e alí, sem contudo, despertar. O homem não pode sair deste sono por si mesmo, porque a mente é capaz até mesmo de sonhar que está acordada. A noite ficamos fechados para o mundo exterior, sonhando por dentro.
Durante o dia nossos sentidos estão abertos para o mundo exterior, mas o sonho continua por dentro. Porisso é que nunca estamos vendo o real, as coisas como elas são. Nunca vemos “o que é”; vemos apenas nossos próprios sonhos projetados no que é. Mas o despertar é possivel. Pode-se começar percebendo o próprio sono, tornando-se cada vez mais consciente dos próprios processos mentais, porque o sono está na mente.
O sono é a mente. O despertar é possivel através do autoconhecimento.
Assim, o estar alerta, nas questões externas, não possui ligação alguma com o despertar psíquico. São níveis de percepção diferentes. Esta é a explicação porque um gênio na política, na ciência ou no mundo dos negócios, pode ser criatura inteiramente sem rumo na vida particular.
Basta observarmos as pessoas nas ruas, nos lugares públicos, para constatarmos que elas andam, falam, comem, trabalham, casam-se, e de modo geral, passam suas vidas em estado de desatenção quase total, comandadas por hábitos e atividades mecânicas. O despertar é a experiência mais elevada pela qual pode passar um ser humano.