– Oi.
– Oi.
– Eu estava te olhando de longe… Você vem sempre aqui?
– Só quando eu estou com vontade de fazer xixi. Quem te deixou entrar no banheiro das mulheres?
– Entrei escondido queria falar com você.
– Não podia esperar eu terminar primeiro?
– É que eu sou muito ansioso… Não é sempre que se encontra a mulher da nossa vida numa festa de formatura.
– Mulher da vida de quem?
– Da minha vida.
– Que espécie de maluco é você?
– O homem da sua vida!
– Como é que é?
– Sou o cara que nasceu pra casar e ter filhos com você.
– Essa é a sua melhor cantada?
– É sério…vamos conversar.
– Quer fazer o favor de fechar essa porta? Eu ainda não terminei.
– Desculpe. Um homem sabe quando avistou a mulher ideal. Geralmente ela é bonita, sexy, tem gostos refinados e inteligência suficiente para ignorar suas gracinhas. É fina, detesta vulgaridades.
– Me deixa vomitar em paz?
– Achei que você só estivesse apertada.
– O que eu faço no banheiro não é da sua conta..
– Eu me importo com você.
– Socorro, tem um homem aqui dentro.
– Psiuuuuu, não grita, eu só quero saber seu nome.
– Eu tô bêbada demais pra saber meu nome.
– Também estou um pouco tonto, confesso. Viu como a gente combina?
– Sai daqui e fecha essa porta antes que eu te jogue esse balde de lixo na cabeça.
– Algumas pessoas passam a vida toda procurando por um amor perfeito. Alguém que te complete e ajude no que for preciso, faça companhia em todos os momentos.
– Cara, como você é chato.
– Melhorou?
– Não acredito que você me assistiu fazendo aquilo.
– Foi a coisa mais linda que eu já vi.
– Acorda, seu idiota. Eu botei um pão de batata pra fora.
– Eu também adoro pão de batata com tequila.
– Espirrou em você, seu porco.
– Eu não ligo. Seu vômito é o meu vômito.
– O que eu fiz pra merecer um maluco desses atrás de mim?
– Tem coisas que só o destino pode explicar.
– De que planeta você veio? Larga do meu pé, chulé.
– Só você não percebeu que isso tudo não foi por acaso.
– Você me seguiu, eu pedi ajuda, ninguém te tirou do banheiro, eu te dei um banho de bolo de chocolate e cerveja.
– Nosso primeiro encontro…
– Nada disso é um encontro. Sai da minha frente.
– Não posso abandonar a mulher da minha vida.
– Que papo é esse? Deixa-me ver o que colocaram no seu whisky?
– É sério, nunca ouviu falar nisso?
– Whisky com bolinha alucinógena? É claro que sim. Nunca aceite o copo de um estranho.
– Nós somos o casal ideal. Nascemos um pro outro. Sabe quais são as chances disso acontecer numa festa de formatura? Uma em cada 150 milhões.
– Bem menores do que as chances de eu te dar uma porrada.
– Você não faria isso com seu futuro marido.
– Vamos do começo… Um: eu já tenho namorado. Dois: você não faz meu tipo. Três: isso não é uma festa de formatura. É a festa de 15 anos da Maria de Fátima. O segredo da relação perfeita está na identificação de sua alma gêmea. Geralmente ela é loira, alta e tem um piercing no nariz. Pode também não ser nada disso. Não importa. O grande lance é perceber se essa alma combina com a sua, tem gostos iguais, beijo bom e, de preferência, um cabelo sem gel.
– Quer apostar que nós nascemos um pro outro?
– Ridículo… vou ficar com peso na consciência.
– Por que não tenta? Fala uma cor.
– Preto.
– A ausência de todas as cores… A minha preferida também.
– Que bobagem.
– Um filme.
– “101 Dálmatas”.
– O mesmo que o meu… Quer prova mais definitiva?
– Eu nunca vi esse filme na minha vida.
– Roubar não vale.
– Que papinho mais furado… Se toca, eu não fui com a sua cara.
– Última chance. Fala uma música.
– Ai que saco… Qualquer uma do Daniel.
– Daniel? Tem certeza?
– Absoluta.
– Então você tem razão… minha mulher ideal não gosta de música sertaneja.
– É mesmo? E que som ela curte?
– Rock, alguma coisa de Jazz… dependendo do dia, MPB.
– O que tem de errado com Leandro e Leonardo, KLB, é o Tchan?
– Nada, só não é mulher pra mim. De qualquer forma, foi um prazer. Todo mundo erra. Quem nunca pensou ter encontrado o grande amor e depois descobriu que ele roncava, tinha caspa e não era muito chegado a banho no inverno? Se fosse fácil não teria graça. O importante é não desanimar, e não foi dessa vez, partir pra outra. Tente clamar seu poema predileto em praça pública e espere alguém completá-lo. Se ninguém se manifestar, saia correndo. Podem ter chamado a polícia.
– Espera.
– O que foi?
– Eu também gosto de MPB. Minha mãe ouve Chico Buarque o dia inteiro. Tecnicamente, se eu estou em casa, também ouço.
– Não sei…. Acho que foi um engano.
– Como você pode saber?
– Olhando bem… você é mais alta do que eu imaginava. A mulher da minha vida tem 1,60 de altura. Foi um prazer.
– Espera, eu estou de salto. Olha só… fiquei mais baixa.
– Você não tem nada a ver comigo.
– Tenho sim.
– Que interesse repentino pela minha pessoa… Até um minuto atrás você queria que eu fosse embora.
– Também não sei o que me deu.
– Você tomou do meu whisky, foi isso?
– Não… quer dizer, não lembro.
– Cadê seu namorado?
– Está na minha frente, com uma coisa esquisita na camisa…
– Que nojo… o que mais você comeu, hein?
– Miojo, antes de sair de casa.
– Eu não posso ser seu namorado, você já tem um.
– Eu menti.
– Só pra me dar o fora? Conseguiu. Tchau.
– Volta aqui, meu amor. Pega uma vodka pra mim.
– Sai de perto de mim, sua louca.
– Só saio daqui casada.
– Socorro!!!
– Achei o homem da minha vida !!!