O ponto do Ónibus

Um vento frio me chicoteava quando corri até o outro lado da rua, para o ponto de ônibus. A cabeça baixa para ver bem onde pisava para não escorregar. Subi a calçada e me apressei até um banco agraciado pelo sol.

Me sentei numa extremidade do banco, próximo a um homem bem vestido. Eu sorri para ele mas ele ficou de “cara feia”. Surpreendeu-me, e um pouco agitada, eu enterrei meu nariz em um livro para esperar pelo ônibus. Atrás de mim vários jovens riram. Devia ser hora das crianças irem para a escola local. Não era um lugar para uma mulher de meia idade estar. Uma mulher simplesmente tentando chegar ao trabalho. Eu não encaixava. Eu era parte da “geração mais velha”.

Eu furtivamente espiei fora do livro. As cabeças estavam curvadas em minha direção. Entre zombarias e risadas, eram um bando de crianças assustadas em corpos de adolescentes. Estavam tentando se virar no que eles pensavam ser um mundo torpe. Me lembrei da conversa que tive com meu próprio filho adolescente, Joshua, no último fim de semana. Ele despejou pra fora de seu coração um jato de angústia. Tantos assuntos, tantas tensões.

– Este é o ponto, ele disse, o mundo está uma bagunça, as pessoas são hipócritas. Não passa um dia sequer sem que algum adulto grite comigo. Os motoristas são rudes e eu tenho que estar atento em todos os lugares que eu vou, se não volto para casa em pedaços. Esta é a realidade, mãe! Você quer conversar comigo sobre compaixão e pessoas adoráveis? O que existe lá fora para se amar?

Meu coração ficou partido com o seu tormento enfurecido. Eu suavemente lhe perguntei, – É só você que se sente assim ou seus amigos pensam da mesma forma?

Seus olhos estavam tristes ao responder, – Com todo o mundo é a mesma coisa! Eu até tenho dois amigos na escola que tentaram cortar seus pulsos e seus pais nem sabem disto! Eles não se importam, eles estão muito enterrados em seu próprio mundo para se importar com qualquer outra coisa.

O barulho do ônibus parando, empurrou-me de volta a realidade. Me levantei e era a primeira da fila. O grupo de crianças alinhou-se atrás de mim. Quando a porta do ônibus abriu, eu virei e cedi para eles entrarem primeiro. O choque estava registrado em seus rostos. Choque e confusão. Eu sorri. Um dos meus sorrisos mais brilhantes. – Vá em frente, por favor. Eu disse.

A primeira menina encolheu os ombros indiferente, mas entrou no ônibus. Eu notei, porém, que havia menos melancolia em seu rosto. Uma depois da outra, as crianças subiram e para cada uma eu sorri e disse, – Vá em frente… tenha um bom dia!

Foi apenas um simples ato de generosidade e uma palavra amiga. Lentamente as crianças subiram no ônibus. Elas começaram a brincar entre si e o humor da turma tinha melhorado. Finalmente eu embarquei e fiquei na frente. Não existia nenhuma poltrona vaga.

No ponto seguinte, o mesmo homem da “cara feia” se levantou e ofereceu seu lugar para mim, enquanto dois outros adolescentes subiam no ônibus. A “molecada” tagarelava e brincava. A alegria estava em seus rostos. Eles conversavam mas em um tom baixo, quase um sussurro. Pude ouvir uma menina falar, – Minha mãe diz para a gente sempre procurar por boas coisas no nosso dia. Esta é sempre a nossa tarefa no final do dia. Às vezes é difícil, mas normalmente existe algo de bom pelo qual pode se estar grato.

Sua amiga murmurou concordando. Esta tinha pais que se importavam com ela.

O ônibus seguiu, parando e andando. Parando e andando. As crianças conversando animadas e sem balbúrdia. Chegando ao ponto próximo da escola, as crianças pegaram suas mochilas e desceram do ônibus.

A última menina a descer virou-se, olhou para mim, sorriu e disse, – Dona, tenha um bom dia!

Com o ônibus já em movimento, o motorista me disse, – Sabe, este foi o melhor comportamento que já vi nestas crianças em muito tempo. Veja o que uma palavra amável pode fazer!

Eu sorri. Sim, uma palavra amável pode fazer muita coisa e pode ir longe.

Texto de Renee Ripley, traduzido por SergioBarros, sobre um encontro da autora com um grupo de crianças numa paragem de autocarro.

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