Os doze trabalhos de Heracles

Entre os Romanos era conhecido como Hercúles, e foi com esse nome que ficou mais conhecido até aos nossos dias. Os gregos, no entanto, chamavam-lhe Heracles. Esta é a história dos seus doze trabalhos.

O grande Zeus, rei dos deuses, teve muitos casos amorosos com mulheres mortais, para grande desconsolo de sua esposa, a deusa Hera. As crianças nascidas desses amores eram semideuses e nenhum foi maior do que Héracles, concebido para ser protetor tanto dos homens quanto dos deuses. Zeus deitou com Alcmena, a mãe de Héracles, disfarçado como seu marido, Anfitrião, que estava longe, guerreando. Zeus mandou que o tempo diminuísse sua velocidade para que uma noite durasse três. Quando Anfitrião regressou, no dia seguinte, Alcmena estava cansada demais para dar-lhe as boas vindas ao lar; ela já estava grávida do filho de Zeus.

Nove meses mais tarde, Zeus gabou-se no Olimpo do herói, seu filho, que estava para nascer. “Seu nome será Héracles, e ele governará a nobre Casa de Perseu”. Hera ficou furiosa, especialmente porque o nome Héracles significava “Glória de Hera”. Ela foi até Zeus e lhe perguntou: “Você jura que a criança que nascerá hoje na Casa de Perseu será o rei de Micenas?” “Juro”, disse Zeus. Hera imediatamente foi até Micenas e apressou o nascimento de Euristeu, primo de Héracles. Depois foi sentar-se fora da porta do quarto de Alcmena e a enfeitiçou para que ela não desse à luz até o dia seguinte. Zeus não podia voltar atrás em sua palavra, e assim Euristeu, em vez de Héracles, tornou-se rei. No entanto, Hera concordou que se Héracles pudesse cumprir Doze Trabalhos, a serem determinados por Euristeu, ele poderia tornar-se deus. Alcmena ficou tão assustada por estar metida no meio de uma briga entre Zeus e Hera que abandonou seu bebê fora de Tebas, a principal cidade de Micenas. Zeus, vendo o que acontecia, pediu à deusa Atena que levasse Hera para passar por ali. “Olhe esta criança tão forte, Hera”, Atena exclamou. “Sua mãe deve ser louca para abandoná-lo. Você está amamentando, Hera. Dê-lhe um pouco de leite.”

Assim, deixando o bebê amamentar em seu seio, Hera foi induzida a salvar a vida de Héracles. Mais tarde, Atena devolveu o bebê para Alcmena. “Guarde-o bem”, ela disse.

Um ano mais tarde, Hera tentou novamente despistar os planos de Zeus. Mandou duas terríveis serpentes, com escamas azuis e olhos flamejantes, para que enfiassem suas presas envenenadas na criança adormecida. De manhã, Alcmena encontrou Héracles sentado, murmurando de prazer, e pendurando as duas serpentes mortas nas grades de seu berço. Ele as tinha estrangulado com as suas próprias mãos. Esta foi apenas uma das maravilhosas façanhas praticadas por Héracles na infância. Ele cresceu alto e ereto, com olhos orgulhosos e força descomunal. Gostava de correr sob as estrelas, aprendeu a refletir e também a lutar. Era um especialista tanto no arco quanto na javalina, mas sua arma preferida era uma maça cortada de uma oliveira selvagem.

Finalmente chegou o tempo em que Héracles deveria cumprir os Doze Trabalhos que fariam dele um deus. A primeira tarefa determinada por Euristeu era para ser a última, pois ele pediu ao primo que matasse o leão de Neméia, uma temível besta cujo couro era invulnerável a qualquer arma. Quando Héracles chegou à Neméia, não conseguiu achar ninguém que lhe dissesse onde estava o leão, pois este tinha devorado todos em seu caminho. Ele se pôs a caçá-lo pela região e acabou descobrindo seu covil. Lá esperou até que o leão regressou da caça, sua juba manchada com o sangue de suas vítimas.

Héracles disparou contra o leão com seu arco, mas as flechas simplesmente resvalavam. Atacou-o com sua espada, mas os golpes repercutiam em suas mãos. Então ele seguiu a criatura até dentro da caverna e lá a agarrou e esganou até a morte.

Quando Héracles voltou a Tebas, usando a pele do leão como armadura, o rei Euristeu quase desmaiou. “Da próxima vez”, disse, “só me avise que cumpriu a tarefa. Não é preciso vir pessoalmente”.

Pois Euristeu estava aterrorizado, temendo que Héracles pudesse fazer com ele o mesmo que havia feito com o leão de Neméia.

Vários dos Trabalhos de Héracles eram de natureza semelhante – ele era enviado para lutar contra um monstro e conseguia, com força e astúcia, matá-lo ou capturá-lo. Sua Segunda tarefa foi matar a Hidra de muitas cabeças, uma criatura tão terrível que cheirar seu hálito já era fatal. Cada vez que ele cortava uma de suas cabeças, nasciam outras. Mas finalmente ele a matou.

Héracles foi enviado contra a corsa de Cerínia, o javali de Erimanto, as aves do Estinfale, o touro de Creta, as éguas de Diomedes e o gado de Gerião. Foi também enviado para roubar o cinto dourado da rainha das Amazonas, Hipólita, que Euristeu queria dar para sua filha, Admete.

Todas essas tarefas foram cumpridas por Héracles. Mas as três que faltavam eram de natureza diferente.

“É evidente que ele pode caçar e lutar”, disse Euristeu. “Mas vamos ver como se sai com o trabalho pesado”.

Héracles foi enviado para limpar os estábulos do rei Augias. Euristeu e seus cortesãos estouraram de riso ao pensarem nisso, pois os estábulos de Augias jamais haviam sido limpos. O excremento do gado e dos cavalos se amontoava tanto que o local estava coberto de esterco.

“Ele não será capaz de olhar para o nariz depois de um ou dois anos carregando esterco”, brincou Euristeu, “mesmo sendo filho de um deus. Ele nem vai querer usar mais o nariz!”

Mas Héracles não se intimidou. Quando chegou aos estábulos, disse ao rei Augias: “Ao anoitecer já terei terminado”.

A primeira coisa que Héracles fez foi abrir dois buracos nos muros do estábulo. Então desviou dois rios próximos para que passassem pelo meio dos estábulos e, em um dia, tinha varrido os estábulos, e os campos e vales estavam limpos novamente. Assim Héracles removeu as montanhas de esterco sem sujar nem suas mãos.

O décimo primeiro Trabalho era mais complicado. Héracles foi enviado para conseguir algumas maçãs de ouro do Jardim das Hespérides, que estão no Ocidente longínquo, no Monte Atlas. As maçãs crescem numa árvore que foi o presente de casamento para a deusa Hera dado por Gaia, a mãe terra. Era cuidado por três virgens, as Hespérides. Além disso, uma feroz serpente estava enrolada na árvore para proteger os frutos preciosos dos ladrões.

Héracles não sabia como roubar este tesouro e decidiu pedir conselho aos deuses. Eles lhe disseram que apenas Nereu, o Velho do Mar, sabia como encontrar o Jardim das Hespérides. Héracles agarrou Nereu enquanto este dormia e o agarrou com firmeza, pois Nereu mudou de forma muitas vezes tentando escapar. Finalmente, Nereu lhe disse tudo que precisava saber.

Em vez de ir direto para o Jardim, Héracles procurou Atlas, cuja tarefa eterna era segurar os céus em seus ombros. “Você deve estar cansado de suportar este peso tão grande”, disse Héracles. “Se você fizer uma coisa para mim, eu o substituo um pouco.”

“O que eu tenho que fazer?”, perguntou Atlas ansioso.

“Apenas pegar para mim uma das maçãs douradas que suas três filhas cuidam. Certamente elas lhe darão uma.”

“Minhas filhas podem me dar a maçã, mas a serpente que guarda a árvore certamente irá me matar.”

“Eu atiro uma flecha na serpente, de fora do Jardim.”

“Neste caso eu farei o que você me pede.”

Assim Héracles matou a serpente e assumiu a carga de Atlas. Quando Atlas voltou com as maçãs, estava assobiando uma canção alegre. “É tão bom caminhar livremente pelo mundo”, disse. “Eu mesmo levarei estas maçãs para Euristeu. Você é um rapaz bem forte, capaz de segurar os céus para mim” Héracles tinha sido advertido por Nereu de que isso aconteceria. Então disse: “Depois do que você fez por mim, com prazer eu fico aqui. Mas sinto que os céus já estão esfolando minha cabeça. Se você pegá-los de novo por um momento, eu farei uma almofada de grama.

Atlas deixou as maçãs e tomou os céus de volta. Mas em vez de fazer uma almofada, Héracles simplesmente pegou as maçãs e foi-se embora.

“Muito obrigado!”, gritou.

O décimo segundo Trabalho de Héracles era o mais difícil. Ele tinha de descer ao Hades, o Mundo dos Mortos, e trazer de volta o cão vigia do inferno, Cérbero, que tinha três cabeças. O trabalho de Cérbero era manter os mortos no Hades, e os vivos fora de lá. Quando Héracles desceu ao Mundo dos Mortos, viu muitos amigos e heróis lendários de tempos passados, que pareciam saudá-lo, ou ameaçá-lo. Mas ele sabia que eram simplesmente sombras, e os ignorou em sua busca pelo cão.

Ele foi saudado pelo próprio Hades e por sua esposa, Perséfone. Hades riu e disse: “O cão é seu se puder pegá-lo”. E Héracles, reunindo toda a sua coragem, jogou seus poderosos braços ao redor do animal, esganando-o como tinha feito com o leão de Neméia, e o arrastou para o mundo do dia.

Cérbero uivou e ganiu todo o caminho para a luz, e onde as gotas de saliva caíam de sua boca, nasciam acônitos venenosos.

Quando Héracles chegou a Tebas com o cão, seu primo Euristeu ficou tão atemorizado que o implorou que ele o levasse de volta. E foi esse o fim dos Trabalhos de Héracles.

No final, a morte chegou à parte mortal de Héracles quando ele vestiu uma camisa que sua mulher tinha acidentalmente embebido de veneno. No entanto, sua parte imortal, que vive para sempre, não podia ser vencida. Enquanto sua sombra mortal vagueia no Hades, seu ser imortal guarda as portas do Paraíso.

Diz-se que quando Héracles subiu para juntar-se aos deuses, Atlas tremeu sob o peso extra.


Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *