Os quatro inimigos naturais do Homem de Conhecimento

Em nossas conversas, Dom Juan sempre usava ou se referia à expressão “homem de conhecimento”, mas nunca explicava o que queria dizer com isso. Perguntei-lhe a respeito.

– Um homem de conhecimento é aquele que seguiu honestamente as dificuldades da aprendizagem – disse ele. – Um homem que, sem se precipitar nem hesitar, foi tão longe quanto pôde para desvendar os segredos do poder e da sabedoria.

– Qualquer pessoa pode ser um homem de conhecimento?

– Não; não qualquer pessoa.

– Então o que é preciso para se tornar um homem de conhecimento?

– O homem tem que desafiar e vencer seus quatro inimigos naturais.

– Ele será um homem de conhecimento depois de vencer esses quatro inimigos?

– Sim. Um homem pode chamar-se de homem de conhecimento somente se for capaz de vencer os quatro.

– Então, qualquer pessoa que conseguir vencer esses inimigos pode ser um homem de conhecimento?

– Qualquer pessoa que os vencer tornar-se um homem de conhecimento.

– Mas há algum requisito especial que o homem tenha de atender antes de lutar contra esses inimigos?

– Não. Qualquer pessoa pode tentar tornar-se um homem de conhecimento; muito poucos homens o conseguem, realmente, mas isso é natural. Os inimigos que um homem encontra no caminho do saber para tornar-se um homem de conhecimento são realmente formidáveis; a maioria dos homens sucumbe a eles.

– Que tipos de inimigos são, Dom Juan?

Recusou-se a falar sobre os inimigos. Disse que se passaria muito tempo até que o assunto fizesse sentido para mim. Procurei manter a conversa a perguntei-lhe que eu poderia me tornar um homem de conhecimento. Respondeu que ninguém poderia dizer isso ao certo. Mas eu insisti para saber se havia algum indício que ele pudesse usar para saber se eu tinha ou não possibilidade de me tornar um homem de conhecimento. Falou que dependia de minha luta contra os quatro inimigos – se eu conseguiria derrotá-los ou ser derrotado por eles – mas que era impossível prever o resultado dessa luta.

Perguntei-lhe se ele podia usar feitiços ou adivinhação para ver o resultado da luta. Declarou claramente que os resultados da luta não poderiam ser previstos por meio algum, porque tornar-se um homem de conhecimento era uma coisa temporária. Quando eu pedi que ele explicasse isso, respondeu:

– Ser um homem de conhecimento não tem permanência. Nunca se é um homem de conhecimento. Não de verdade. Ou antes, a pessoa se torna um homem de conhecimento por um instante muito breve, depois de derrotar os quatro inimigos naturais.

– Você tem que me dizer, Dom Juan, que tipos de inimigos eles são.

Não respondeu. Tornei a insistir, mas ele mudou de assunto e começou a falar sobre outra coisa.

Domingo, 15 de abril de 1962

Quando eu estava me preparando para partir, tornei a lhe perguntar acerca dos inimigos do homem de conhecimento. Argumentei que ia passar algum tempo sem voltar, e que seria uma boa idéia escrever as coisas que ele tivesse a dizer e pensar e pensar a respeito enquanto estivesse fora. Hesitou um pouco, mas depois começou a falar:

Quando um homem começa a aprender, ele nunca sabe muito claramente quais seus objetivos. Seu propósito é falho; sua intenção, vaga. Espera recompensas que nunca se materializarão, pois não conhece nada das dificuldades da aprendizagem.

Devagar, ele começa a aprender… a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. Aprender nunca é o que se espera. Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito tornar-se um campo de batalha.

E assim ele se deparou com o primeiro de seus inimigos naturais: o Medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltar do caminho, rondando, à espreita. E se o homem, apavorado com a sua presença, foge, seu inimigo terá posto um fim à sua busca.

– O que acontece com o homem se ele fugir com medo?

– Nada lhe acontece, a não ser que nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento. Talvez se torne um tirano, ou um pobre homem apavorado e inofensivo; de qualquer forma, será um homem vencido. Seu primeiro inimigo terá posto fim a seus desejos.

– E o que ele pode fazer para vencer o medo?

– A resposta é muito simples. Não deve fugir. Deve desafiar o medo, e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte na aprendizagem, e o seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. É esta a regra! E o momento chegará em que o seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de si. Seu propósito torna-se mais forte. Aprender não é mais uma tarefa aterradora. Quando chega esse momento feliz, o homem pode dizer sem hesitar que derrotou seu primeiro inimigo natural.

– Isso acontece de uma vez, Dom Juan, ou aos poucos?

– Acontece aos poucos e no entanto o medo é vencido de repente e depressa.

– Mas o homem não terá medo outra vez, se lhe acontecer alguma coisa nova?

Não. Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque, em vez do medo, ele adquiriu a clareza… uma clareza de espírito que apaga o medo. Então, o homem já conhece seus desejos; sabe como satisfazê-los. Pode antecipar os próximos passos na aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada se lhe oculta.

E assim ele encontra seu segundo inimigo: a Clareza! Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter, elimina o medo, mas também cega.

Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança de que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso porque é claro e não pára diante de nada porque é claro. Mas tudo isso é um engano; é uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a esse poder de faz-de-conta, sucumbiu a seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem. Vai precipitar-se quando devia ser paciente, ou ser paciente quando devia precipitar-se. E tateará com a aprendizagem até acabar incapaz de aprender mais qualquer coisa.

– O que acontece com um homem que é derrotado assim, Dom Juan? Ele morre por isso?

– Não, não morre. Seu inimigo acaba de impedi-lo de se tornar um homem de conhecimento; em vez disso, o homem pode tornar-se um guerreiro valente, ou um palhaço. No entanto, a clareza, pela qual ele pagou tão caro, nunca mais se transformará de novo em trevas ou medo. Será claro enquanto viver, mas não aprenderá nem desejará nada.

– Mas o que tem de fazer para não ser vencido?

Tem de fazer o que fez com o medo: tem de desafiar sua clareza e usá-la só pra ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos; deve pensar, acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá um momento em que ele compreenderá que sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim ele terá vencido seu segundo inimigo, e estará numa posição em que nada mais poderá prejudicá-lo. Isso não será um engano. Não será um ponto diante da vista. Será o verdadeiro poder.

Ele saberá a essa altura que o poder que vem buscando há tanto tempo é seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado está às suas ordens. Seu desejo é a ordem. Vê tudo o que está em volta. Mas também encontrou seu terceiro inimigo: o Poder!

O poder é o mais forte de todos os inimigos. E naturalmente a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque é um senhor.

Um homem nesse estágio quase nem nota seu terceiro inimigo se aproximando. E de repente, sem saber, certamente terá perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado num homem cruel e caprichoso.

– E ele perderá o poder?

– Não, ele nunca perderá sua clareza nem seu poder.

– Então o que o distinguirá de um homem de conhecimento?

– Um homem que é derrotado pelo poder morre sem realmente saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desses não tem poder sobre si, e não sabe quando ou como usar seu poder.

– A derrota por algum desses inimigos é uma derrota final?

– Claro que é final. Uma vez que esses inimigos dominem o homem, não há nada que ele possa fazer.

– Será possível, por exemplo, que o homem derrotado pelo poder veja seu erro e se emende?

– Não. Uma vez que o homem cede, está liquidado.

– Mas, e se ele estiver temporariamente cego pelo poder, e depois o recusar?

– Isso significa que a batalha continua. Isso significa que ele ainda está tentando ser um homem de conhecimento. O indivíduo é derrotado quando não tenta mais e se abandona.

– Mas então, Dom Juan, será possível que um homem se entregue ao medo durante anos, mas que no fim ele o vença.

– Não, isso não é verdade. Se ele ceder ao medo, nunca o vencerá, porque se desviará do conhecimento e nunca mais tentará. Mas se procurar aprender durante anos no meio de seu medo, acabará dominando-o, porque nunca se entregou realmente a ele.

– E como o homem pode vencer seu terceiro inimigo, Dom Juan?

Também tem de desafiá-lo, propositadamente. Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido, na verdade nunca é seu. Deve controlar-se em todas as ocasiões, tratando com cuidado e lealdade tudo o que aprendeu. Se conseguir ver que a clareza e o poder, sem seu controle sobre si, são piores do que os erros, ele chegará a um ponto em que tudo está controlado. Então, saberá como e quando usar seu poder. E assim terá derrotado seu terceiro inimigo.

O homem estará, então, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber encontrará seu último inimigo: a Velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o único que ele não conseguirá derrotar completamente, mas apenas afastar.

É o momento em que o homem não tem mais receios, não tem mais impaciências de clareza de espírito… um momento em que todo seu poder está controlado, mas também um momento em que ele sente um desejo irresistível de descansar. Se ele ceder completamente a seu desejo de se deitar e esquecer, se ele se afundar na fadiga, terá perdido o último round, e seu inimigo o reduzirá a uma criatura velha e débil. Seu desejo de se retirar dominará toda sua clareza, seu poder e sabedoria.

Mas se o homem sacode sua fadiga, e vive seu destino completamente, então poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra o seu último momento invencível. Esse momento de clareza, poder e conhecimento é o suficiente.

Este texto de Carlos Castaneda, é um trecho do livro A Erva do Diabo, e fala sobre os inimigos naturais de qualquer homem que queira tornar-se sábio.

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente

Poema de Florbela Espanca.

Homem-macaco

Eu estava de passagem pela Universidade de Fordhan, Nova York. Meu colega, Jesuíta americano, ao saber que eu gostava de escrever estorinhas leves para jovens, propôs um passeio a Long Island, onde veria alguma coisa sensacional, inesperada e até nunca sonhada por ninguém… Fez-me entrar no carro e saímos…

De fato, o que vi neste passeio é um caso único. Uma fábrica de sapatos projetada só para deficientes físicos. Todas as máquinas foram desenvolvidas pelo proprietário da empresa, Mister Henry Viscardi. Lá se viam máquinas acionadas só por um toco de braço, outras só pelos pés ou alguma perna atrofiada. Havia uma, a que mais me comoveu, manipulada pela boca de um operário tetraplégico!

Henry Viscardi, o dono e criador dessa maravilha de amor, era também deficiente físico. Nascera com as pernas atrofiadas do joelho para baixo e tinha apenas um esboço de pés.

Quando criança, andava com as mãos, segurando dois tocos de madeira, calçados com borracha de pneu. Esse seu modo de andar lhe valeu o apelido de “homem-macaco”, dado pelos meninos da escola Cada vez que o chamavam assim, ele saía, pulando com seus tocos de madeira, para ir chorar junto da professora. Um dia, esta resolveu dar-lhe uma sacudidela moral, dizendo:

– Você pode pôr um fim a tudo isso se quiser! É um garoto muito inteligente e pode ser o primeiro da classe. Quando tal acontecer, todos irão respeitá-lo.

Foi dito e feito. Passou a enfrentar aquela situação (ver-se chamado de “homem- macaco”) sem lágrimas nem agressividade. Mas, sobretudo, começou a caprichar nos estudos, em pouco tempo estava em primeiro lugar! Acabou-se a zombaria. Ele terminou o primário e o colegial. Entrou para a faculdade e formou-se em engenharia. Casou-se e teve quatro filhas! Abriu uma indústria de sapatos e, em poucos anos, acumulou uma imensa fortuna!

Um dia, de seu carrão milionário, adaptado por ele próprio para ser controlado inteiramente com as mãos, viu um deficiente físico arrastando-se pelas ruas de Nova York. Aquilo doeu-lhe e lhe sugeriu uma grande idéia. Começou a planejar máquinas especiais para deficientes. Foram meses e meses de trabalho, debruçado sobre as pranchetas… E a fábrica saiu do papel. Lá estava eu percorrendo seus pavilhões, saudado por dezenas e dezenas de sorrisos de deficientes… mas não havia deficiência alguma naqueles sorrisos, porque vinham de homens e mulheres muito felizes.

Henry Viscardi é um grande católico, mas sua fábrica, que leva o nome tão bem empregado de “Abilities” (Habilidade), tem emprego para todas as religiões e todos se amam com o mesmo sorriso de felicidade!

– Eu que conheci bem o sofrimento aprendi a socorrer os que sofrem.

Há muitas pessoas sofredoras que, talvez, encontrassem paz e felicidade se procurassem ajudar alguém que sofre tanto ou mais do que elas. Esta é a lição maravilhosa, inesquecível, do milionário deficiente físico que, do alto dos seus milhões de dólares, debruçou-se sobre outros deficientes e os ajudou a encontrar o seu lugar na vida. A Lição do “Homem-macaco”!


As profissões de Balança

Funcionários de Balança são trabalhadores detalhistas e dedicados, de natureza sensível. Gerentes e colegas acham-nos às vezes difíceis de lidar. Eles captam a energia do escritório e são incapazes de se prevenir contra isso. Barulho alto, cores berrantes e vibrações discordantes vão afetá-los de tal maneira que eles terão dificuldades em cumprir suas obrigações no trabalho.

Num dia, o Libriano pode parecer ser o mais brilhante, dedicado e ambicioso funcionário que existe. No dia seguinte ele pode estar depressivo, irritado e incapaz de produzir.

Os colegas não devem se preocupar quando funcionários de Balança estiverem assim mal humorados. Não dura mesmo muito tempo, pois eles podem sair deste estado tão rapidamente quando entraram.

Quando funcionários de Balança estão bem centrados, podem ser uma presença poderosa no trabalho – eles tem um dom de valorizar tudo que tocam. Debaixo daquela confusão de humores, na verdade eles são basicamente pessoas estáveis e alegres.

São capazes de pensamentos lógicos profundos e de avaliar todos os lados de uma situação antes de agir, pois estão entre os signos mais inteligentes. São exímios pesquisadores e mediadores.

E sua sensibilidade ao ambiente faz com que transmitam naturalmente uma visão otimista das coisas aos demais. Eles ajudarão os outros facilmente a resolver conflitos e podem atuar como mediadores entre funcionários e gerência, de modo a que todos terminem contentes. Se você quer manter seu funcionário de Balança sorrindo, dê a ele respeito devido e coloque-o em uma posição em que ele possa exercer todo o seu grande encanto e diplomacia.

Ele não se contentará em apenas cumprir ordens por muito tempo, então lhe dê cada vez mais responsabilidade.


O presente e o insulto

Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que se dedicava a ensinar o fundamento zen aos jovens.

Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde, um guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu por ali. Queria derrotar o samurai e aumentar sua fama.

O velho aceitou o desafio e o jovem começou a insultá-lo. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou insultos, ofendeu seus ancestrais.

Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível.

No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se. Desapontados, os alunos perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta indignidade.

– Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?

– A quem tentou entregá-lo – respondeu um dos discípulos.

– O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos. Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem o carregava consigo.

A sua paz interior depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a calma. Só se você permitir…


Uma colheita inesperada

Uma escola rural. Os estudantes consistiam exclusivamente de crianças pobres.

Depois que as crianças tinham terminado com sucesso a leitura de um livro, foram recompensadas lhes sendo permitido levar livro, fitas cassete e um walkman para casa durante o fim de semana.

Acreditava-se que isto daria um reforço adicional à aprendizagem. Quando chegou a sexta-feira, Nicole deixou a escola, levando um livro, as fitas e o walkman. O acordo era que as crianças retornariam, na segunda-feira, com tudo o que levara para casa.

Na segunda-feira, Nicole não trouxe os livros e nem as fitas de volta à escola. Todo dia ela dizia que se esquecera ou sequer dava uma desculpa. A professora sabia que isto não era normal em se tratando de Nicole. Algo estava errado.

Três semanas se passaram. E nada do livro ou da fita!

Então, um dia, a jovem mãe de Nicole – vestida em uniforme de garçonete – veio à escola. Disse a secretária da escola que queria falar com a professora de leitura, do lado de fora da escola.

Com compreensível apreensão, a professora foi encontrar-se com a mãe de Nicole. A mãe, agarrada ao livro, fita e walkman, disse à professora que queria explicar porque Nicole não tinha devolvido o material como combinado. Nicole não podia ser responsabilizada; ela era a responsável.

Estava claro para a professora todo o desconforto sentido pela mãe de Nicole tentando dizer exatamente porque tinha ficado tanto tempo sem trazer de volta os materiais de leitura.

Seguiu-se um longo e incômodo silêncio, a professora esperou.

As primeiras palavras vieram a duras penas. Então de repente, a mãe, parecendo ter encontrado sua zona de conforto, começou a contar sua história. – Quando Nicole chegou em casa e disse que estava aprendendo a ler, eu não acreditei. Ninguém em minha família sabe ler. Meus pais não sabem ler. Meus irmãos e irmãs não sabem ler. E eu não sabia ler!

E continuou: – Quando Nicole trouxe este livro e leu para mim, eu lhe perguntei, “Como você aprendeu isto?” e Nicole me respondeu, “é fácil, mãe. Eu apenas escuto a fita e acompanho no livro. Quando eu preciso, posso apenas escutar ou ler junto com a professora até que eu possa ler tudo sozinha. Você também pode fazê-lo, mãe!”

Engolindo em seco, continuou: – Eu não acreditei em Nicole. Mas eu sabia que eu tinha que tentar… A razão de Nicole não trazer o material de volta à escola era porque eu não podia deixar! Eu tinha que aprender a ler como minha menina.

Houve uma curta pausa, então completou: – Posso ler para você?

E lá na escola da sua criança, a jovem mãe, uma criança ainda quando teve a sua criança, começou a ler o livro para a professora. O tempo todo, lágrimas escorriam pela face da jovem. Em certo momento, a professora também se emocionou. Qualquer um que visse as duas certamente pensaria que algo trágico tinha acontecido. Quem poderia imaginar a razão daquelas lágrimas?

A mãe de Nicole foi explicar que com a ajuda daquele livro ela tinha aprendido a ler!

Não havia nenhuma necessidade de se exclamar aleluias! Já abundavam em cada palavra daquela mãe. Estavam expressos no semblante da confiança recentemente adquirida.

Para a professora de Nicole, aquele parecia um momento sagrado; nenhuma palavra poderia expressá-lo. Admirada, sentou-se encantada com o efeito inesperado e involuntário do seu programa de leitura. Isto serviu como uma confirmação de porque fora educada para ensinar, e que coisas maravilhosas aconteciam e não era por acidente. Refletia que, ironicamente, o melhor benefício tinha sido o resultado nesta jovem mãe que não fazia parte de seus planos.

Quebrando suas reflexões, a mãe anunciou que, apesar das dúvidas e graças à sua Nicole, tinha feito o que parecia impossível: tinha lido para a sua própria mãe! A Bíblia! Na manhã de Natal!


A Marca “Você”

Quando eu era criança, bem novinho, meu pai comprou o primeiro telefone da nossa vizinhança.

Eu ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante que ficava na cômoda da sala. Eu era muito pequeno para alcançar o telefone, mas ficava ouvindo fascinado enquanto minha mãe falava com alguém.

Então, um dia eu descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era “Uma informação, por favor” e não havia nada que ela não soubesse.

“Uma informação, por favor” poderia fornecer qualquer numero de telefone e até a hora certa. Minha primeira experiência pessoal com esse gênio-na-garrafa veio num dia em que minha mãe estava fora, na casa de um vizinho. Eu estava na garagem mexendo na caixa de ferramentas quando bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível mas não havia motivo para chorar, uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua simpatia.

Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido ate que pensei: O telefone!?

Rapidamente fui ate o porão, peguei uma pequena escada que coloquei em frente a cômoda da sala. Subi na escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido. Alguém atendeu e eu disse: “Uma informação,por favor”.

Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu ouvido.

– Informações.

– Eu machuquei meu dedo… – disse, e as lagrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência.

– A sua mãe não esta em casa? – ela perguntou.

– Não tem ninguém aqui… – eu soluçava.

– Está sangrando?

– Não – respondi. – Eu machuquei o dedo com o martelo, mas tá doendo…

– Você consegue abrir o congelador? – ela perguntou. Eu respondi que sim.

– Então pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo – disse a voz.

Depois daquele dia, eu ligava para “Uma informação, por favor” por qualquer motivo.

Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava a Philadelphia. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno esquilo que eu trouxe do bosque deveria comer nozes e frutinhas.

Então, um dia, meu canário, morreu.

Eu liguei para “Uma informação, por favor” e contei o ocorrido.

Ela escutou e começou a falar aquelas coisas que se dizem para uma criança que esta crescendo. Mas eu estava inconsolável.

Eu perguntava: – Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola?

Ela deve ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente: – Paul, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também…

De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor.

No outro dia, lá estava eu de novo. – Informações. – disse a voz já tão familiar.

– Você sabe como se escreve `exceção`?

Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao norte do Pacifico. Quando eu tinha 9 anos, nós nos mudamos para Boston.

Eu sentia muita falta da minha amiga.

“Uma informação, por favor” pertencia aquele velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atracão pelo nosso novo aparelho telefônico branquinho que ficava na nova cômoda na nova sala.

Conforme eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha memória. Freqüentemente, em momentos de duvida ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo.

Hoje eu entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um menininho.

Alguns anos depois, quando estava indo para a faculdade, meu avião teve uma escala em Seattle. Eu teria mais ou menos meia hora entre os dois vôos.

Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por 15 minutos.

Então, sem nem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o número da operadora daquela minha cidade natal e pedi: “Uma informação, por favor.”

Como num milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo: “Informações.”

Eu não tinha planejado isso, mas me peguei perguntando: – Você sabe como se escreve exceção`?

Houve uma longa pausa. Então, veio uma resposta suave: – Eu acho que o seu dedo já melhorou, Paul.

Eu ri. – Então, é você mesma! – eu disse. – Você não imagina como era importante para mim naquele tempo.

– Eu imagino – ela disse. – E você não sabe o quanto significavam para mim aquelas ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todos os dias que você ligasse.

Eu contei para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visita-lá quando fosse encontrar a minha irmã.

– É claro! – ela respondeu. – Venha até aqui e chame a Sally.

Três meses depois eu fui a Seattle visitar minha irmã.

Quando liguei, uma voz diferente respondeu : “Informações.”

Eu pedi para chamar a Sally.

– Você é amigo dela? – a voz perguntou.

– Sou, um velho amigo. O meu nome é Paul.

– Eu sinto muito, mas a Sally estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente, ela morreu há cinco semanas. Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou: – Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paul?

– Sim.

– A Sally deixou uma mensagem para você. Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse. Eu vou ler pra você.

A mensagem dizia:

Diga a ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender.

Eu agradeci e desliguei. Eu entendi…


Encontro na Central Station

John Blanchard levantou do banco, endireitando a jaqueta de seu uniforme e observou as pessoas fazendo seu caminho através da Grand Central Station.

Ele procurou pela garota cujo coração ele conhecia, mas o rosto não: A garota com a rosa!!

Seu interesse por ela havia começado trinta meses antes, numa livraria da Flórida.

Tirando um livro da prateleira, ele se pegou intrigado, não com as palavras do livro, mas com as notas feitas a lápis nas margens. A escrita suave refletia uma alma profunda e uma mente cheia de brilho.

Na frente do livro, ele descobriu o nome do primeiro proprietário: Srta. Hollis Maynell. Com tempo e esforço ele localizou seu endereço. Ela vivia em New York City.

Ele escreveu-lhe uma carta, apresentando-se e convidando-a corresponder-se com ele. Na semana seguinte ele embarcou num navio para servir na II Guerra Mundial. Durante o ano seguinte, mês a mês eles desenvolveram o conhecimento um do outro através de suas cartas. Cada carta era uma semente caindo num coração fértil. Um romance de companheirismo.

Blanchard pediu uma fotografia, mas ela recusou… Ela pensava que se, realmente, ele se importasse com ela, sua aparência não importaria… Quando finalmente chegou o dia em que ele retornou da Europa, eles marcaram seu primeiro encontro – 7:00 da noite na Grand Central Station

“Você me reconhecerá”, ela escreveu, “pela rosa vermelha que estarei usando na lapela”. Então, as 7:00 ele estava na estação procurando por uma garota cujo coração ele amava, mas cuja face ele nunca havia visto.

Vou deixar o Sr. Blanchard dizer-lhe o que aconteceu:

Uma jovem aproximou-se de mim. Sua figura era alta e magra. Seus cabelos loiros caiam delicadamente sobre os seus ombros; seus olhos eram verdes como água. Sua boca era pequena; seus lábios carnudos e seu queixo tinha uma firmeza delicada. Seu traje verde pálido era como se a primavera tivesse chegado. Eu me dirigi a ela, inteiramente esquecido de perceber que a mesma não estava usando uma rosa.

Como eu me movi em sua direção, um pequeno provocativo sorriso, curvou seus lábios.

– Indo para o mesmo lugar que eu marinheiro? – ela murmurou.- Quase incontrolavelmente dei um passo para junto dela, e então eu vi Hollis Maynell.

Ela estava parada quase que exatamente atras da garota.

Uma mulher já passada dos 50 anos, ela tinha seus cabelos grisalhos enrolados num coque sobre um chapéu gasto.

Ela era mais que gorducha, seus pés compactos confinavam em sapatos de saltos baixos.

A garota de verde seguiu seu caminho rapidamente.

Eu me senti como se tivesse sido dividido em dois, tão forte era meu desejo de segui-la e tão profundo era o desejo por aquela mulher cujo espírito, verdadeiramente, me acompanhara e me sustentara através de todos as minhas atribulações.

E então ela parou! Sua face pálida e gorducha era delicada e sensível, seus olhos cinzas tinham um calor e simpatia cintilantes. Eu não hesitei…

Meus dedos seguraram a pequena e gasta capa de couro azul do livro que a identificou para mim.

Isto podia não ser amor, mas poderia ser algo precioso.

Talvez mais que amor, uma amizade pela qual eu seria para sempre cheio de gratidão.

Eu inclinei meus ombros, cumprimentei-a mostrando o livro para ela, ainda pensando, enquanto falava, na amargura do meu desapontamento.

-Sou o Tenente John Blanchard, e você deve ser a Srta. Maynell. Estou muito feliz que tenha podido me encontrar.

– Posso lhe oferecer um jantar? – perguntou o cavalheiro.

O rosto da mulher abriu-se num tolerante sorriso: – Eu não sei o que esta acontecendo – ela respondeu – aquela jovem de vestido verde que acabou de passar me pediu para colocar esta rosa no casaco.

» Ainda me disse que, se você me convidasse para jantar, eu deveria lhe dizer que ela estaria esperando por você no restaurante de esquina.

» Me disse que isso era um tipo de TESTE!!

Não parece difícil, para mim, compreender e admirar a sabedoria da Srta. Maynell.

A verdadeira natureza do coração de uma pessoa é vista na maneira como ela responde ao que não é atraente!!

Feliz de quem escreveu!
Feliz de quem leu!
Feliz de quem entendeu!

As pessoas entram em nossa vida “por acaso”, mas não é por acaso que elas permanecem.


As jornadas Iniciáticas

Uma vez compreendido que a iniciação é o resultado de um processo mais ou menos longo de compreensão, conhecimento e prática, que leva a uma mudança de status pessoal por marcar uma mudança de hábitos; que ela é a culminância de um processo e não o processo em si, há de se entender como esse processo se dá.

Um processo de iniciação é um processo de trabalho da personalidade, que envolve, como dissemos, a desconstrução de padrões pré-estabelecidos e a construção de novos padrões, que passarão a nortear a nossa conduta e existência. Vemos uma representação desse processo nos arcanos maiores do tarô: cada um deles representa um passo, um degrau, um conhecimento específico que se deve adquirir, ao longo de um caminho iniciático. Esse caminho é, no tarô, percorrido pelo Louco, que justamente por isso é o arcano sem número, podendo se encontrar, portanto, em qualquer uma das posições, ou estágios do caminho.

O Louco representa a própria desconstrução. Consideramos louco tudo aquilo que não é estruturado, tudo aquilo que é, de certa forma, caótico ou vazio.

No entanto, a real estruturação apenas pode surgir do caos; caso contrário, o que se dá é apenas uma reformulação, ou mesmo apenas um ajuste. É emblemática a frase que surge em praticamente todas as cosmogonias, com ligeiras variações: no princípio era o caos.

Uma jornada iniciática não pode partir de preceitos estabelecidos. Muito pelo contrário: ela deve começar justamente pela eliminação de todo e qualquer conceito que possa, de alguma forma, direcionar ou influenciar o caminho de quem se propõe a empreendê-la. Note-se que o Louco se encontra, justamente, à beira do abismo. O próximo passo, que ele já começou a dar, o lançará no desconhecido, sem nenhum ponto de apoio, deixando para trás tudo aquilo que é sólido.

Lançar-se no abismo (domínio do Ar e, portanto, dos inícios) significa, também, mergulhar na própria consciência, ir ao fundo de si mesmo, atirar-se ao fundo do poço de nossa personalidade. Ao atingirmos o fundo do poço, só existe um caminho de saída: para cima. Logo, apenas ao atingi-lo poderemos empreender a escalada; construir, degrau por degrau, a escada que nos levará das profundezas escuras de volta ao Sol, para que possamos, novamente, ver o Mundo.

Esse é, portanto, o teor da jornada iniciática, da qual a cerimônia de iniciação, o rito de passagem, marca simplesmente a culminância do processo.

Por isso mesmo, em sua celebração, o rito busca reprisar os episódios da jornada, refazer a desconstrução e reconstrução da personalidade, representar em momentos aquilo que, por vezes, levou anos. No decorrer de nossa vida, podemos passar por diversos processos desse tipo, conscientes ou não, orientados ou não. O final de cada um desses processos é apenas o início do próximo.

Um exemplo disso nos é dado pela própria vida, a grande jornada iniciática em si, que encerra todo o processo cíclico de nascimento, aprendizagem, morte e renascimento. Somos matéria bruta ao nascermos e, ao longo dos anos, adquirimos o conhecimento que nos dá, na velhice, a clara visão do mundo, tão decantada como a sabedoria que surge com a idade. O próximo passo, no entanto, é novamente o mergulho no abismo, no desconhecido.

Texto de Jan Duarte sobre iniciações e ritos de passagem.

Perseu

Os mitos e as lendas sempre foram recursos usados para explicar aquilo que foge à nossa compreensão. A fantástica história de Perseu, personagem da mitologia grega símbolo da crença de que o homem não consegue fugir ao seu destino, foi retirado do livro Uma viagem através dos mitos, de Liz Greene e Juliet Sharman-Burke, Jorge Zahar Editor.

Perseu era filho de uma mortal, Danae, e do grande deus Zeus, rei do Olimpo. O pai de Danae, o rei Acrísio, havia sido informado por um oráculo de que um dia seria morto por seu neto e, aterrorizado, aprisionou a filha e afastou todos os seus pretendentes. Mas Zeus era deus e desejava Danae: entrou na prisão disfarçado em chuva de ouro, e o resultado dessa união foi Perseu. Ao descobrir que, apesar de suas precauções, tinha um neto, Acrísio fechou Danae e o bebê numa arca de madeira e os lançou ao mar, na esperança de que se afogassem.

Mas Zeus enviou ventos favoráveis, que sopraram mãe e filho pelo mar e os levaram suavemente à costa. A arca parou numa ilha, onde foi encontrada por um pescador. O rei que comandava a ilha recolheu Danae e Perseu e lhes deu abrigo. Perseu cresceu forte e corajoso e, quando sua mãe se afligiu com as indesejadas investidas amorosas do rei, o jovem aceitou o desafio que este lhe fez: o de lhe levar a cabeça da Medusa, uma das Górgonas. Perseu aceitou essa missão perigosa não porque ambicionasse alguma glória pessoal, mas porque amava a mãe e estava disposto a arriscar a vida para protegê-la.

A Górgona Medusa era tão hedionda que quem olhasse seu rosto transformava-se em pedra. Perseu precisaria da ajuda dos deuses para vencê-la, e Zeus, seu pai, certificou-se de que essa assistência lhe fosse oferecida: Hades, o rei do mundo subterrâneo, emprestou-lhe um capacete que tornava invisível quem o usasse; Hermes, o Mensageiro Divino, deu-lhe sandálias aladas; e Atena lhe deu uma espada e um escudo. Perseu pôde fitar o reflexo da Medusa e, assim, decepou-lhe a cabeça, sem olhar diretamente para seu rosto medonho.

Com a cabeça monstruosa seguramente escondida num saco, o herói voltou para casa. Na viagem, avistou uma bela donzela acorrentada a um rochedo à beira-mar, à espera da morte pelas mãos de um assustador monstro marinho. Perseu soube que ela se chamava Andrômeda e estava sendo sacrificada ao monstro porque sua mãe havia ofendido os deuses. Comovido por sua aflição e sua beleza, o herói apaixonou-se por ela e a libertou, transformando o monstro marinho em pedra com a cabeça da Medusa. Em seguida, levou Andrômeda para conhecer sua mãe, que, na ausência dele, tinha sido tão atormentada pelas investidas do rei depravado que, desesperada, tinha ido se refugiar no templo de Atena.

Mais uma vez, Perseu ergueu bem alto a cabeça da Medusa e transformou em pedra os inimigos da mãe. Depois, entregou a cabeça a Atena, que a incrustou em seu escudo, onde ela se tornou o emblema da deusa para sempre. Perseu também devolveu os outros presentes aos deuses que os haviam oferecido. Daí em diante, ele e Andrômeda viveram em paz e harmonia e tiveram muitos filhos. Sua única tristeza foi que, um dia, ao participar dos jogos atléticos, ele arremessou um disco que foi levado a uma distância excepcional por uma rajada de vento. O disco atingiu e matou acidentalmente um velho. Tratava-se de Acrísio, o avô de Perseu, e com isso, finalmente, cumpriu-se oráculo do qual um dia o velho tentara se livrar.

Mas Perseu não tinha um espírito rancoroso ou vingativo e, por causa dessa morte acidental, não quis governar o reino que era seu por direito. Em vez disso, trocou de reino com seu vizinho, o rei de Argos, e construiu para si uma poderosa cidade, Mecenas, onde viveu uma longa vida com sua família, com amor e honradez.